domingo, 14 de novembro de 2010

Outro jeito de escrita

Escrevo mesmo desse jeito. Queria ter sido uma escritora rústica, de tempos antigos, onde se usava canetas de pena, canetas-tinteiro e luz de velas. Aí sim era o puro gosto da poesia, a energia das linhas e dos pensamentos escondidos. A escrita sagrada que vinha das almas de amantes poetas, loucos, bêbados. Hoje eu e outros tantos imbecis contemporâneos escrevemos assim, nessa tela fria, em frente a milhares de informações que nos atingem feito tsunamis. E ainda nos ousamos poetas. Não temos mais o sentimento bucólico, a dor intrínseca de cidades pequenas, mal iluminadas. Não sabemos mais o gosto do leite que chega com o menino abrindo as manhãs: “Ó o leeeite”. E a gente saía coma as latas nas mãos, e as enchia com o fresco, com o amor do leite da manhã. Cotidianamente, vamos nos esquecendo de bons dias, boas noites. E ainda nos ousamos sábios, porque temos o mundo em nossas mãos, porque diariamente tentam nos convencer de que todos necessitam de informação e tecnologia.
Eu preferia o cheiro da bosta do cavalo quando passava em frente a minha casa, comia capim e lá deixava seus rastros. Muito mais me agradava do que toda essa fumaça automóvel que intoxica meus nervos, minha pele. Hoje é necessário correr, driblar, trabalhar, digitar, editar, copiar, colar. E em meio a isso tudo, penso que precisamos urgentemente de uma caneta-tinteiro.

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