sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sobre fé

Ela gostava quando as pessoas falavam em deus.
Era tão sublime
que chegava a acreditar.
Amém.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dos infinitos

Letras cabem nas palavras.
Letras são azuis quase sempre.
Ajudam a pintar os vazios e clarear os pensamentos.
Tantos confusos se perdem,
se acham, se trombam em tempestade.
Desaba chuva de palavras,
Sentimento aduba o frio.
Tenho um vestígio azul do infinito em minhas mãos.

domingo, 14 de novembro de 2010

Outro jeito de escrita

Escrevo mesmo desse jeito. Queria ter sido uma escritora rústica, de tempos antigos, onde se usava canetas de pena, canetas-tinteiro e luz de velas. Aí sim era o puro gosto da poesia, a energia das linhas e dos pensamentos escondidos. A escrita sagrada que vinha das almas de amantes poetas, loucos, bêbados. Hoje eu e outros tantos imbecis contemporâneos escrevemos assim, nessa tela fria, em frente a milhares de informações que nos atingem feito tsunamis. E ainda nos ousamos poetas. Não temos mais o sentimento bucólico, a dor intrínseca de cidades pequenas, mal iluminadas. Não sabemos mais o gosto do leite que chega com o menino abrindo as manhãs: “Ó o leeeite”. E a gente saía coma as latas nas mãos, e as enchia com o fresco, com o amor do leite da manhã. Cotidianamente, vamos nos esquecendo de bons dias, boas noites. E ainda nos ousamos sábios, porque temos o mundo em nossas mãos, porque diariamente tentam nos convencer de que todos necessitam de informação e tecnologia.
Eu preferia o cheiro da bosta do cavalo quando passava em frente a minha casa, comia capim e lá deixava seus rastros. Muito mais me agradava do que toda essa fumaça automóvel que intoxica meus nervos, minha pele. Hoje é necessário correr, driblar, trabalhar, digitar, editar, copiar, colar. E em meio a isso tudo, penso que precisamos urgentemente de uma caneta-tinteiro.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Seria assim se fosse, seria doce.

De repente, num dia de segunda-feira,
Podia o sol brilhar tão forte que fosse derretendo
um coração moribundo.
As palavras querendo praticar deus
lançariam vozes quentes até amolecer
raivas e ódios desajeitados.

Como se não existisse mais a lembrança.
Nem seus restos empecilhos na memória.
Hoje, quando o ruído da rua pariu meu dia,
eu quase amanheci uma ilusão.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Nascimento

Ela pediu licença à sua tristeza.
Não queria assustar o coração
dos passarinhos.
Decidiu então morrer em paz.
Feito bicho da terra,
enterrada de flor.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A palavra eu.

Cada palavra é silêncio.
Cada uma é um eco, um gigante adormecido.
Um grito calado e seco
Que precisava chorar um sonho de menina.
Mas se perdeu em outros braços.
Des-esperou.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Encontros

Hoje no azul silêncio do céu
um pássaro voou e caiu na lua.
Ela fez uma volta com ele em cima.
O menino havia feito a lua que brilhava
no mundo escuro infinito
dos olhos da namorada.
Hoje, quase o dia se abriu em sol,
mas depois ele foi-se embora.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Cantiga

O passarinho que tem rabos
é uma poesia.
Por si só.
Sol la si.

Fim do dia

Havia um silêncio incômodo entre meus lábios
e um pingo de eternidade
no meu íntimo.
Acho que tenho medo.
O medo é uma espécie de indizível.

sábado, 24 de abril de 2010

Natureza

Eu choro sempre.
Vou começar uma árvore dentro de mim.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dia de chuva

Quando minha avó me punha no balanço,
eu dava salto como que ia voar.
Era passarinho, feito anjo quase.
Ela me fazia acreditar no Deus
que existia antes de mim.
Me deu bolo, me deu fé.
Meu avô me levava ao boteco,
tomava uma cachaça e me sobrava
um doce de amendoim ou um chocolate.
Ele me trazia, à noite, um cheiro de pipoca
que até hoje me alivia a alma.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sesta

Hoje eu acordei de susto.
Como acocorada no meu ventre.
Acordei só.
Sem saber preguiça, não me olhei no espelho.
Não me vi o rosto.
Cara de susto.
Suado.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Maria

De cada ser desse caminho,
todos me levam a alguma direção.
Eu que sempre fui calada aprendi com o silêncio
a olhar para as coisas indizíveis.
De todos me dizerem de amar, descubro hoje,
que o meu maior amor sou eu mesma,
essa dor que me atravessa.