terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Talinho

Às vezes vou sentindo um negócio.
Uma vontade de dizer, de conseguir.
Aí não sei, não sai.
Entala um nó na garganta
Difícil.
Acaba que por fim
Nasce uma ou outra coisa nova.
Mas eu nunca consigo distinguir
Se é uma poesia ou uma flor.

sábado, 27 de outubro de 2007

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

À noite

Tem uma mulher
solta dentro de mim
Tem uma mulher
louca dentro de mim
Às vezes penso
que ela vai chorar
Mas ela me olha
e me ri
uma risada frenética.
Sua risada me assusta
e me conquista
Mais uma vez
dentro de mim.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

No fundo.

Conte uma poesia.
Desde que seja bela.
Não cante suas dores
escondidas.
E nem o que de fato
acontece com elas.
Conte uma poesia e sorria
Mesmo que ningúem
acredite e saiba
sobre ela.
Cante uma poesia
e se apertar
acenda uma vela.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

De sempres

A casa pronta, resta a reconstrução.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

No meio de Cecília

Estive folheando livros
Pra me encontrar
E heis que entre páginas amarelas
Encontro palavras
escritas a lápis.
Encontro uma letra leve e risonha.
Encontro-me com a força
que sempre me levanta
depois de uma queda.
São palavras sinceras
que dizem:
"Fugiste da luta
Escondeste teu sofrer".
A coisa mais preciosa
que já tive em mãos.
Fecho os olhos e agradeço
por ti.
Porque te amo, mãe.
E porque és meu eterno anjo.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Do sono

Hoje cantando eu sei.
Cansei.
Hoje cantando eu dormi.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Dedo de Deus

Arco-íris no céu
Barulho de mar,
de criança
e de passarinho.
Areia fininha
e branquinha
escorregando entre os dedos
Por um momento,
estive livre no círculo.
O pôr do sol escorregando,
dourado.
O dedo de Deus
é como um orgasmo
constante.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

De verdade

Um pássaro passou na frente do sol
E escureceu o dia por um segundo,
Foi namorar.
A poesia quem faz é a vida, não o poeta.
Ontem mesmo foi embora
Hoje já não existia.
Seria uma cotovia?

De mentira

Cada verso
Um verso
Que canta
Uma dor
Bem escondidinha
Cá dentro
O processo é assim:
Engravida-se,
Sangra-se,
Pare-se e
Esvazia-se
(se engana).

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Da criação

Senta-se à espera daquilo que não é. A vida apresentou-se de repente como coisa que não alcançava. De dar medo, de escorregar por entre os dedos.
Ela foi então cuidar das plantas, mexer a terra, entregar-se às origens. Pra poder se encontrar novamente com o que não soube ter. Para que pudesse saber mais uma vez da vida e da morte.
O que se pode pegar da terra tem de ser muito respeitado. Quem ensinou foi dona Maria. Era pra prestar atenção que não precisa chorar pra passar a dor, pois serão lágrimas mentirosas. Porque talvez nem ao menos haja dor.
E porque conseguiu esperar, ela soube da natureza mais fundo. Que o fogo é pra rezar, a terra é pra pisar e a planta é pra curar.
A luz do sol veio clareando o dia de mansinho. Foi iluminar mais um sorriso de menina.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Às escondidas

Sangra,
em algum lugar
a dor que
gostas de sentir.
E ninguém sabe.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

De passagem

Tenho visto que não conheço o sertão, mas sei quem ele é. Cresci a vida contada pelos outros, das coisas da seca. Sabendo que lá a terra se racha e se abre e engole as miseresas todas do mundo.
- Arreda o pé da tua cama e bota ele no chão, que é pra sentir a dureza da vida, menina!
O sertão me mostra um amontoado de gente desgraçada e feliz pedindo a compaixão de Deus pra que caia do céu uma nuvenzinha.
É bonito assim mesmo, com toda a sua feiúra.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

As coisas (ou eu mesma).

Minha casa contém fitas de cetim que servem para filtrar. Enquanto balançam suavemente no meio do caminho, passam por elas o sim e o não. As coisas todas têm uma função, não em si, mas com relação ao todo. Há ainda espaços vazios, objetos guardados. O tempo, porém, sabiamente pede para que se façam presentes somente em seus devidos momentos presentes.
Sinto a dor desses espaços vazios, às vezes sinto-a em forma de lágrimas insistentes em que mergulho minha face. Faço parte da casa e carrego o que está nela. A lua lá fora vai vigiando tudo e, alguma vez, empresta sua claridade para alumiar.
Está prestes a se tornar um sol, a se deparar com aquilo que tentou dividir e não pôde.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Dos desencontros

-Escova logo esses dentes pra vir olhar a lua, menina!
Mas ela tinha a noite toda pra fazer isso. Tava igualzinho a um sorriso amarelo e gordo suspenso no céu, a cara dela no espelho também.
Até que a lua foi embora e a menina dormiu.

quarta-feira, 20 de junho de 2007


Quarta-feira

Gosto de café.
Cheiro de galinha depenada.
Água do mar,
salgada, pelada.
Caldo de feijão,
tarde boa,
dia gostoso...
Dia vermelho.

terça-feira, 19 de junho de 2007


Os sabores

Casa. Flor. Terra.
Elementos de mim
com forma forte e leve.
De suavidade de cheiros,
cores, formas, sexos.
Representam na vida
o que é de mulher.
De beleza que só
entende quem sente.
É a sutileza mais
bruta e humana vivível.
É o que sou.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Das coisas

Começo a arrumar a minha casa e penso cautelosamente nas possibilidades que há em cada pedacinho dela. É bem quente, aconchegante. Lá encontro o que não mais falta em mim. Um sonho me contou que para renovar as energias dentro e fora, é preciso que se troque o lixo todos os dias. É preciso cuidar também dos restos que não nos servem.
Observo tudo com cuidado para fazer o que é preciso. Aos poucos, a casa clareia. A casa e a vida. A casa e o dia. A casa e o eu. O vento passa de leve pela janela.

Dos mesmos

Começo a enfeitar minha casa e ela sorri. O que falta nela está em mim. As plantas esperam para serem postas em seus lugares. Não falta espaço para o oco de mim que está no mundo. Tenho em mãos meu corpo e a consciência mas não sei o que fazer com eles. Escuto devagar a melodia que me embala. E o cheiro da tarde vai penetrando em meu dia. É doce, é forte, é gostoso demais. Prefiro não me perder.

Os mesmos

Começo a construir minha casa e nela planto tudo o que é novo. Faço do que passei um universo de aprendizagem. Junto com os objetos, construo-me. Sinto-me bem perto de mim. Do alcance da minha beleza vivida. Não choro pois as lágrimas se cansaram. Sofro sem pranto e vivo até o onde vão as minhas forças.

Do nada

Começo a enfeitar minha casa. Aquela que não possuo. Construa-a aos poucos que é pra não errar o caminho. Em alguns lugares planto flores que talvez não se abram nenhuma. Moro onde habita meu corpo, onde estão os meus pés. Enquanto escrevo, transformo o vácuo em beleza de ser dita.
Começo a enfeitar minha casa e a ressucitar do meio da vida. O brilho do sol é de uma pureza fresca qual seu calor. As pessoas que moram debaixo dele não têm de descobrir e nem conhecer, têm de nascer. Nascer para a grama, para o pouco que nos resta de natureza fora dos quadros. E o que não deve se acabar nunca é mesmo essa vontade de ter uma dia aquilo que nos salvará do tédio de não ter. Um amor, um filho, uma casa ou até mesmo um desamor.
Prepare seu pensamento
A vida...O que é?
É estar sendo.
É nunca ser
pra aprender.
Que cada coisa
Não é em si
E basta.
É pra sempre,
E acaba.